domingo, 30 de dezembro de 2012

Relatório de viagem [Coréia do Sul] - volta

São Paulo, 30 de dezembro de 2012

O cabeçalho acima já é um indício de que eu já estou de volta. De fato, estou mesmo.

Isso para mim foi uma grande coisa. Não só porque eu estava com saudades (muitas saudades!) da Martha e do Raphael, como também porque eu estava ansioso com relação à conexão nos Estados Unidos. Vou tentar explicar.

Nos Estados Unidos, ao passar na imigração, você recebe um canhoto para devolver na saída do país. Este seria o registro da tua saída do país. Normalmente isso é feito no check-in, na viagem de volta, mas por alguma razão isso não tinha sido feito na última vez que saí dos Estados Unidos. Só percebi isso na hora de apresentar o passaporte à imigração nesta viagem, na ida. O agente de imigração deixou-me passar, mas ele disse que eu não podia mais fazer conexão pelos Estados Unidos.

Durante a minha estadia na Coréia, eu tinha tanto trabalho a fazer que não tive tempo para ficar ansioso com este problema. Mesmo assim, eu reportei o problema à empresa logo que eu cheguei à Coréia. Esperei duas semanas para obter alguma resposta, mas não obtive nenhuma. Perguntei de novo, e o meu gerente respondeu que não achavam que eu teria problemas, e que eu poderia entrar em contato com o consulado para ter mais certeza. Este "contato" foi feito por e-mail, e a resposta deles deixou-me mais inquieto que tranquilo. O consulado direcionou-me para uma seção de perguntas e respostas da internet que dizia que eles checavam os voos de saída com as companhias aéreas, mas sugeriu que eu entrasse em contato com o departamento que lidava com a imigração. Este departamento, no entanto, respondeu-me que a minha saída provavelmente não havia sido registrada propriamente, e eu teria de devolver o papel com alguns comprovantes de que eu havia saído antes do tempo devido (e eu não tinha nenhum desses comprovantes).

Tentei entrar em contato novamente com a empresa novamente, pedindo para considerar a possibilidade de remarcar a passagem para passar por outro país. A resposta da empresa foi que seria muito caro remarcar a passagem (algo em torno de 2000 dólares) e, por isso, eu teria de voltar pelos Estados Unidos, mesmo. A única coisa que providenciaram foi uma declaração da empresa de que eu trabalhava lá. Disseram que isso deveria ser suficiente para eu passar pela imigração sem problemas.

Foi nesta situação que eu fiz a viagem de volta. As noites anteriores foram mal-dormidas, por causa da ansiedade com a possibilidade de ser barrado, preso, ter o visto cancelado, ou, quem sabe, ser deportado para o local de origem (nesse caso, a Coréia). Tentei imaginar o que eu faria em relação ao meu emprego se algo errado acontecesse. Eu tentei dizer a mim mesmo que provavelmente eu não teria problemas, mas a ansiedade falava mais alto.

Consegui terminar o trabalho todo na quinta-feira, dia 28, e saí definitivamente da Samsung Electronics neste dia, após um happy hour com a equipe que trabalhou conosco. Nesta noite, fomos a um restaurante para comer churrasco coreano e depois a um bar para comer frango frito. Foi uma noite agradável, talvez a primeira noite de trabalho sem a pressão e a cobrança que eu sentia todos os dias. Depois, voltei para o hotel, conversei com a esposa e filho, e tentei dormir.

No dia seguinte, tentei usar tudo o que o hotel oferecia, mas que não tinha tido tempo para usar antes (o hotel tinha uma academia de ginástica e um banheiro público, do tipo ofurô), e fiquei até o último minuto. Depois de fazer o check-out, eu consegui fazer um passeio à fortaleza de Hwaseong, que ficava próximo do hotel. Depois disso, voltei ao hotel, peguei as malas e fui ao aeroporto. Os meus "won"s (a moeda local, equivalente a aproximadamente um milésimo de dólar) acabaram: por isso, não pude comprar mais nada do que eu queria comprar nem do que os meus amigos tinham-me pedido para comprar.


Templo situado próximo à uma das principais entradas da fortaleza de Hwaseong (Paldalmun)



Início do trecho de serra da fortaleza, entre os portões de  Paldamun e Hwaseomun.  A muralha sobe até o topo da montanha e depois desce para a próxima entrada.

O ponto mais alto da fortaleza, de onde se pode ver toda a cidade de Suwon.  Esta construção era usada para observar  a chegada de inimigos à distância.
Portão Hwaseomun, ima das principais entradas da fortaleza.

Uma placa indicando a distância do quartel-general da fortaleza em relação a outros lugares. Note a distância ao Rio de Janeiro...

A maior igreja de Suwon, vista do muro da fortaleza

Cabeça de porco à venda no mercado do centro da cidade

O vôo de volta foi mais tranquilo que o de ida, pois eu não estava mais gripado. Na hora da imigração, eu tentei controlar a ansiedade quando o oficial de imigração checou os meus registros após tirar as minhas digitais e a foto. Quando ele verificou que estava tudo certo, eu respirei aliviado, como se um fardo tivesse sido tirado de mim. Eu continuaria a juntas as provas e levá-las comigo nas próximas viagens aos Estados Unidos, mas, por enquanto, eu estava pronto para voltar ao Brasil. A segunda parte da viagem foi ainda mais tranquila, pois o voo estava vazio e eu tinha três assentos só para mim. Isto era o que eu precisava para tirar uma soneca antes de chegar em São Paulo. Cheguei em Guarulhos no dia 29 de dezembro, às 11:30 da manhã.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Relatório de viagem [Coréia do Sul] - Fotos

Suwon, 25 de dezembro de 2012

Infelizmente, desta vez não deu para passear quase nada. Estive todo esse tempo trabalhando, trabalhando e trabalhando, sábados, domingos e feriados, de manhã, de tarde, à noite e de madrugada, porque o lançamento da linha 2013 de TVs não poderia esperar mais um pouco. Na Samsung os prazos parecem ser levados tão a sério que os desenvolvedores são intimados a trabalhar dia e noite até resolver todos os problemas. Se, sob a ameaça de um abismo fiscal no início do ano que vem, o presidente e os deputados dos Estados Unidos puderam ter um recesso de natal sem chegarem a um acordo, nós não tivemos esta moleza. Ao que parece, o lançamento da linha 2012 das TVs deve mais importante que a maior economia do planeta ...

De qualquer maneira, não tenho muito a escrever além de comentar as coisas que eu capturei nas fotos que eu fui tirando ocasionalmente. Espero que apreciem.

Helio Fujimoto.



Esta é uma árvore de Natal cheia de smartphones da Samsung, montada na entrada do COEX mall, um shopping subterrâneo localizado no distrito de Gangnam, em Seoul. Este mall expõe os lançamentos de novos produtos. Da última visita, o hall de entrada mostrava o lançamento de um novo carro de GM. Desta vez, foi a vez da linha Galaxy da Samsung.


Um pirarucu, o maior peixe de água doce do mundo, original da Amazônia. Este é um dos aquários de Seoul, localizado dentro do COEX mall, que também contém peixes ornamentais, tubarões, arraias, tartarugas, pinguins, águas-vivas, peixes-bois, e outras criaturas de água doce e salgada.

Este é o gogigui, o churrasco como é feito na Coréia. Recebemos várias variedades de carne crua, quase congelada. Sentamos em uma mesa baixa com um buraco redondo no meio, onde eles colocam brasa quente e uma grelha em cima. Nós colocamos os pedaços de carne na grelha e esperamos assar, virando de lado ocasionalmente. O churrasco coreano normalmente vêm acompanhado de alguns temperos, broto de feijão, cogumelos, alfaces, e algumas outras coisas que eu não consegui decifrar.




O bairro de Itaewon fica próximo a uma base militar americana e, por isso, tornou-se um bairro internacional, onde é possível encontrar restaurantes de várias nacionalidades: americana, japonesa, chinesa, mongol, turca, indiana, grega, italiana, francesa ... e brasileira. Esta é a entrada do restaurante Copacabana, onde nós comemos um rodízio de churrasco depois de quase um mês sem comer comida brasileira...


Entrada do Samsung Museum of Art (Leeum), um museu de arte tradicional e moderna, no bairro de Itaewon.


O kimchi é o prato tradional da Coréia, basicamente legume fermentada com pimenta. Normalmente, usa-se acelga para o processo de fermentação, mas pode-se usar outros legumes, como repolho, rabanete ou pepino. Eles preparam o legume com vários temperos antes de armazená-los em vasos de barro enterrados no solo e esperar a fermentação (nos tempos modernos, já existem geladeiras que replicam as mesmas condições ambientais para fermentação). O gosto é parecido com o de um picles apimentado: por isso, eu não consigo comer muitos pedaços. Dizem aqui que o kimchi é um alimento milagroso, cheia de fibras e vitaminas, capaz de reduzir a ocorrência de câncer.

Um trem saindo da estação de Suwon, indo em direção à estação de Seoul. O transporte ferroviário aqui é bastante eficiente e barato. Algumas estações ferroviárias, como as de Suwon, Yongsan e Seoul, são complexos com lojas de departamento, praças de alimentação e shoppings.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Relatório de viagem [Coréia do Sul] - Samsung


Suwon, 14 de dezembro de 2012

Como eu já havia mencionado anteriormente, eu trabalho na Samsung como engenheiro de software, na área de TV. Falar sobre o meu trabalho e da empresa onde estou trabalhando não é muito fácil, pois existem assuntos que são impróprios para dizer em público, seja porque certas informações devem ser confidenciais ou porque algumas opiniões poderiam me comprometer. Mesmo assim, creio que vale a pena falar sobre algo que ocupa a maior parte das minhas viagens na Coréia.

Samsung é uma palavra em coreano que significa "três estrelas". A empresa começou como um pequeno comércio em 1938, e aos poucos, cresceu e diversificou-se em várias áreas. Hoje, é um conglomerado, envolvido em várias atividades, da qual a fabricação de eletrônicos é uma das principais. Na Coréia do Sul, a Samsung é onipresente, está envolvida nas áreas de construção, parques de diversão, moda, lojas de departamento, carros, eletrodomésticos, e provavelmente em muitas outras atividades que eu não sei ainda.

A Samsung Electronics iniciou suas atividades em 1969 fazendo eletrodomésticos, e hoje é a maior empresa de tecnologia do mundo. As suas atividades também são diversificadas, envolvendo celulares, semicondutores, equipamentos de áudio e vídeo, computadores, câmeras fotográficas e eletrodomésticos.

A sede da Samsung Electronics é uma cidade dentro da cidade de Suwon, um campus por onde trafegam milhares de funcionários todos os dias. Até onde eu sei, este campus tem três portões de entrada, e eu sempre entro pelo portão principal. Dentro do campus, além dos prédios onde os engenheiros trabalham, há praças, quadra poliesportiva, ginásio, academia de ginástica, lojas, restaurantes e refeitórios. Somente os funcionários de alto escalão podem trafegar de carro dentro do campus: a maioria dos funcionários toma o transporte fretado da empresa que serve a cidade de Suwon e as cidades vizinhas. Existem estacionamentos perto dos portões de entrada, mas eles funcionam em esquema de rodízio: é possível vir de carro somente uma vez por semana.

Entrada do portão principal da sede da Samsung Electronics. 

Eles levam a segurança muito a sério: não se pode entrar com câmeras fotográficas, todos os dispositivos de armazenamento (pen drive ou MP3, por exemplo), devem ser lacrados antes de entrar dentro do campus, e todos os computadores que entram deve ser instalados com um software de segurança que criptografa os documentos e controla os dispositivos de entrada. A preocupação com a segurança de dados é compreensível, pois é comum na área de tecnologia, principalmente entre as empresas asiáticas, o "roubo" de informações de empresas concorrentes. No entanto, eu fico imaginando se todo este aparato de segurança evitaria o roubo de informações confidenciais por alguém que quisesse fazê-lo.

A divisão de TVs da Samsung Electronics fica no prédio mais alto do campus, com algo em torno de 37 andares (embora, talvez por superstição, eles pulem o quarto e o décimo-terceiro andar). Nós praticamente passamos o dia inteiro dentro desse prédio, principalmente agora, quando o frio nos desencoraja a sair e passear pelo campus. Há três refeitórios no prédio, e a comida é o equivalente à comida de fábrica, só que coreana: baseada em kimchi, apimentada, esquisita. Depois de algum tempo, eu me acostumei, mas foi muito difícil no início.
Os prédios da Samsung Electronics visto da entrada do campus. O prédio da esquerda é o de vídeo (onde estou trabalhando), o da direita é o de celulares, os prédios de trás estão em construção e o mais baixo com uma faixa laranja é um centro de convivência.

Normalmente, há um engenheiro da sede que é responsável por nós e providencia o necessário para trabalharmos ali. Na primeira vez que eu visitei a sede, disseram-me que a cultura de trabalho coreana era bastante hierarquizada, quase militar. Cada funcionário tem um posição (E3, E4, E5, E6); os engenheiros de hierarquia superior são bastante respeitados, e os outros engenheiros até se curvam diante deles quando os encontram. Existia uma cultura de submissão na qual a palavra do chefe é uma ordem e o chefe tem o direito de tratar os seus subordinados rispidamente sem ser confrontado. Os subordinados só poderiam sair do trabalho após o chefe sair. Esta cultura de trabalho no início me incomodou muito. Felizmente, desde aquela época, muitas coisas mudaram no processo de globalização da empresa: dependendo do engenheiro que nos recebe, as regras são bastante flexíveis. Hoje tenho muito mais liberdade no ambiente de trabalho quando venho aqui.

Uma outra parte da cultura coreana difícil de me adaptar foi a cultura dos "happy hour"s. Beber com os companheiros de trabalho parece ser uma questão muito importante para os coreanos, como se fosse um rito de passagem: você só fará parte do grupo quando beber com eles. Eu nunca gostava destes momentos, pois eu não tenho o hábito de beber, muito menos o de me embriagar, como acontecia com eles nestas confraternizações. Quando havia estas confraternizações, eu me sentia constrangido por não estar bebendo com eles. Também, esta cultura está mudando: nas últimas vezes em que saímos para confraternizar, os trabalhadores ainda bebiam muito, mas ao menos a decisão de não beber é respeitada.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Relatório de viagem [Coréia do Sul] - Suwon

Suwon, 12 de dezembro de 2012

O maior aeroporto da Coréia do Sul fica na cidade de Incheon, uma cidade costeira a poucos quilômetros da capital Seoul. Dizem que é um dos melhores aeroportos do mundo, e realmente o aeroporto é muito bom. Ao chegar ao aeroporto, passar pela imigração e pela alfândega, tomei um ônibus que ia para a cidade de Suwon, uma viagem de pouco mais de uma hora.

O local onde eu trabalho quando eu viajo à Coréia do Sul é a sede da Samsung Electronics, que fica na cidade de Suwon. Suwon é a capital da província de Gyeonggi, uma cidade de 1 milhão de habitantes distante a 30 km da capital da Coréia do Sul (Seoul). Eu fiquei hospedado em um hotel no centro da cidade (distrito de Paldal) e a Samsung fica na parte leste (distrito de YeongTong), embora esteja a uma distância de 30 minutos de caminhada do hotel em que me hospedei.

A cidade de Suwon vista da janela do hotel

Desta vez eu fiquei hospedado em um hotel Ibis, em uma vizinhança cheia de salões de casamento (O Ibis, a propósito, tem dois andares reservados para casamentos), e de vez em quando eu via carros chegando nesta região com roupas de casamento. Das outras vezes em que eu vim para cá, eu me hospedei em um hotel menor, rodeado de motéis, boates e casas de massagem. A noite era agitada naquela região, e do hotel podia-se ouvir ruídos "suspeitos" à noite.

Pirâmide em frente ao salão de espetáculos da cidade (Gyeonggi Arts Center)
Esta loja de departamentos (Home Plus) próximo ao hotel é onde normalmente fazemos as compras de supermercado.

Do hotel para o trabalho, podia-se caminhar, pegar um táxi ou usar o transporte do hotel. Na maioria das vezes eu escolhia caminhar por uns 25 minutos, pois era o único exercício físico que eu tinha condições de fazer ali. Do hotel para o trabalho, eu passo por um salão de casamento, um parque com uma escultura de uma bola de futebol de um lado e uma pirâmide de outro lado (esta pirâmide é do salão de espetáculos da cidade); na próxima quadra, uma escola de um lado e um condomínio vertical do outro; na próxima, um centro comercial com restaurantes, lojas, farmácias e mais outras coisas que não sei ainda; depois, a subprefeitura de YeongTong, um parque, um rio e, finalmente, a entrada central da Samsung, que é uma cidade dentro da cidade de Suwon.
Foto da avenida que liga o hotel até a Samsung. Os prédios da Samsung ficam no final da avenida.


Ao caminhar entre o hotel e o trabalho, pode-se notar como é o trânsito na cidade. As calçadas da cidade são bastante largas, e é possível andar tranquilamente nelas. As bicicletas andam em uma ciclovia na calçada. As ruas são bastante largas, e as regras do trânsito são parecidas com as do Brasil, exceto por alguns detalhes. Por exemplo, os carros costumam manobrar o carro para retornar na mão contrária em qualquer ponto da avenida; em alguns lugares; os pedestres andam na diagonal; os semáforos podem ter até 5 fases; em um cruzamento, os carros que vem dos dois lados da avenida viram para a esquerda, dando a impressão inicial que que vão colidir. Em geral, os coreanos não parecem seguir as regras de trânsito à risca, como eu via nos Estados Unidos ou na Europa; mesmo assim, o trânsito parece fluir melhor que em São Paulo, por exemplo.
O sanitário de um parque de Suwon. A cidade se orgulha de  fazer de sanitários uma obra-prima, e até dão nomes a eles. Este aí tem o formato de uma bola.

Dentro da cidades, é possível fazer algumas visitas. No final da dinastia dos Joseon, no final do século 18, o rei tentou fazer de Suwon a capital da Coréia e fortificou a cidade. Construiu uma fortaleza e cercou a cidade com muros. A fortaleza, chamada de Hwaseong, é considerada um patrimônio cultural e vale a pena a visita. Na única vez que eu a visitei, caminhamos toda a extensão dos muros, examinado as torres de vigia e as fortalezas.
Construção dentro de um parque próximo do hotel. Na Coréia existem espaços como esse onde as pessoas tiram os seus calçados, descansam e fazem piquenique. Alguns desses lugares são bem trabalhados, como este da foto, que tem o estilo chinês.
Entrada de um parque perto do hotel, que faz referência à fortaleza de Hwaseong. O  centro de Suwon é rodeado por muros com alguns postos de observação como o da foto para proteger a cidade.

Um outro local que eu visitava bastante era a montanha que fica próximo da cidade, chamada de Gwangyosan. Era a minha maneira de exercitar um dos meus hobbies preferidos, o de subir montanhas e apreciar a natureza. Embora o morro não seja muito alto (mais ou menos 600 metros), subi-lo era um exercício extenuante, e eu chegava exausto ao hotel depois desta caminhada. Obviamente, desta vez não poderei ir, pois está muito frio e cheio de neve.

Próximo de Suwon, na cidade de Yongin, eu visitei outras duas atrações turísticas nestas viagens: um parque de diversões e uma aldeia histórica. O parque de diversões (Everland) é da Samsung, e é um dos maiores da Ásia. Realmente, o parque é grande e muito bom, mas foi possível visitar as principais atrações em um dia. A aldeia histórica (Korean Folk Village) é muito interessante: eles tentarem preservar as habitações e o modo de vida dos habitantes da Coréia no passado.


sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Relatório de viagem [Coréia do Sul] - Despedida

Olá, pessoal,

Eu sempre desejei descrever as minhas impressões sobre as viagens que tenho feito para a Coréia do Sul pela empresa em que eu trabalho (Samsung), mas não tinha tempo ou disposição para fazê-lo até agora.

Uma vez que esta é a sexta vez que eu visito a Coréia do Sul, vou escrever de uma maneira diferente dos relatórios que eu fiz antes. Vou focar naquilo que já aprendi sobre o país ao invés de descrever detalhadamente o que eu passei durante esta viagem. Afinal de contas, eu tenho usado a maior parte do tempo aqui trabalhando (e como!) e não há muita coisa que seria interessante para contar sobre isso.

Mesmo assim, espero que vocês tenham uma boa leitura,

Hélio.

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Suwon, 8 de dezembro de 2012

Eu embarquei no aeroporto há quase uma semana atrás. Despedi-me da Martha e do Raphael, com o coração apertado por deixá-los sós, no Brasil.

Como família, nós temos tido muitos problemas por causa destas viagens de trabalho. Menos de um ano após casar com a Martha, tive de viajar aos Estados Unidos para participar do desenvolvimento de um produto. Viajei por dois meses, voltei por um mês e depois viajei novamente por um mês. Tentei levar a Martha junto, mas o visto foi negado e ficamos separados por três meses naquele ano. Foi o início da relação conturbada que teríamos entre a nossa vida familiar e as demandas de trabalho, e que ainda estamos tentando resolver.

Quanto à Coréia do Sul, fui levado para lá logo depois de ter sido contratado pela empresa, para ficar por três meses: novembro, dezembro e janeiro. Como desta vez, passei o natal do outro lado do mundo, longe da família e dos amigos. Naquela época, o Raphael tinha um ano, e aparentemente não sentiu muito (ele só não me reconheceu quando eu voltei); a Martha, no entanto, sentiu bastante a minha ausência, pois teria de lidar com tudo sozinha. Depois, fui para a Coréia mais quatro vezes antes desta viagem. Em uma delas, o Raphael reagiu com revolta quando eu voltei para casa: ele não quis abrir a porta e, quando eu entrei, ele me empurrou para a porta, falando para eu voltar à Coréia. Depois de alguns dias ele voltou a me receber com o carinho de sempre, mas é indescritível a tristeza que eu senti ao ouvir isso de meu próprio filho.

Esta viagem foi marcada para acontecer no sábado (dia primeiro); chegaria segunda-feira (dia 3) na Coréia para começar a trabalhar. Normalmente estas viagens são assim mesmo: com o intuito de economizar tempo e dinheiro, a empresa envia os funcionários no final de semana, para que não percam tempo de trabalho nas viagens de avião, apesar de colocar no papel o compromisso de evitar programar viagens no final de semana. Normalmente, há pouco tempo para ficar com a família antes e depois das viagens, mesmo as viagens prolongadas.

Eu não considero uma pessoa que viaja muito a trabalho: desde que eu entrei na Samsung, há quatro anos atrás, eu estive viajando por mais ou menos 7 meses. Eu também não sou avesso a estas viagens de trabalho: elas são boas para o meu desenvolvimento profissional e pessoal, tiram-me da rotina casa-trabalho-casa e dão-me a oportunidade de conhecer realidades distantes da minha. De fato, eu estava sentindo falta de uma viagem de trabalho depois de um ano e meio sem viajar. Mesmo assim, eu reconheço que as viagens de trabalho tem sido um fator que tem corroído o meu relacionamento com minha esposa e com meu filho. Algumas famílias provavelmente conseguem lidar com estas viagens com mais facilidade que nós, mas o fato é que as viagens são uma das evidências de que existe um conflito de lealdade entre as corporações e as nossas famílias. Eu muitas vezes me sinto tendo de escolher ficar com a empresa, mesmo crendo que a minha família é mais importante.

Relatório de viagem [Coréia do Sul] - A viagem de ida

Suwon, 8 de dezembro de 2012

A viagem de ida para a Coréia normalmente leva entre 30 e 35 horas, dependendo da rota utilizada. Como a Coréia do Sul fica quase do outro lado de São Paulo, pode-se utilizar várias rotas diferentes para chegar ao destino: já fui para lá através de Paris, Amsterdã, Dubai, Istambul e, desta vez, por Los Angeles. Neste caso, foram 14 horas na primeira parte, 2 horas e meia no aeroporto, e mais 13 horas na segunda parte.

Na véspera da viagem, eu comecei a ter os sintomas de uma gripe leve: dor de garganta, um pouco de febre e de dor no corpo todo. Os sintomas pioraram durante a viagem, e senti mal a viagem toda: a dor no corpo aumentou, comecei a tossir e a escorrer o nariz. Na descida do avião, comecei a ter uma dor aguda nos ouvidos devido à diferença de pressão atmosférica, embora nunca tivesse sentido isso antes. O pior é que, na entrada da Coréia eu tive de preencher um formulário declarando os sintomas que eu estava sentido. Não sei por que, mas acabei não indo para quarentena, mesmo declarando que eu sentia doente.

A conexão é diferente em cada lugar. A de Paris era sem-graça, não havia assentos confortáveis, tudo era muito caro e o tempo de conexão muito longo. A de Amsterdã é um pouco melhor, pois há lugares onde você pode se reclinar e descansar enquanto espera o próximo vôo. A de Dubai é a melhor: o espaço para conexão é grande, os assentos confortáveis, o café da manhã está incluso, e os preços do duty free shop são bastante convidativos. Em algumas conexões, é possível fazer uma visita relâmpago à cidade próxima do aeroporto, mas é necessário pagar pelo tour, e eu acabei não aproveitando esta oportunidade.

Em Los Angeles, a conexão foi bastante rápida e, por isso, não tive tempo para desfrutar das facilidades da sala de conexão. De qualquer forma, não tinha muita coisa além de assentos, banheiros, uma loja de conveniência e conexão Wi-Fi. Um outro incidente ocorreu em L. A.: descobri na imigração que não tinha devolvido o cartão de saída dos Estados Unidos na última viagem que fiz para lá. Por causa disso, ouvi do oficial de imigração que eu não poderia mais fazer conexão pelos Estados Unidos. Notifiquei a empresa sobre o incidente, mas não sei como eu vou voltar ao Brasil sem mudar a passagem.

Antigamente, eu tinha um sono pesado, e dormia bem mesmo em viagens de avião de longa distância. Isso foi há dez anos atrás. Desta vez, eu quase não consegui dormir, e passei quase toda a viagem explorando a única atividade que eu me sentia capaz de fazer: assistir filmes. Assisti a sete filmes durante a viagem, e aproveitei para ver os filmes de ação que não consegui ver antes no cinema ou em vídeo por ter uma criança em casa.

Hoje, eu vejo como a minha vida mudou desde os meus trinta anos. Eu aproveitava este tempo de viagem para dormir, para meditar sobre a minha vida, sobre o meu relacionamento com Deus e com as pessoas próximas de mim, para ler um bom livro, para escrever. Hoje, não consigo mais fazer isso: entediante é o adjetivo certo para descrever o tempo gasto no avião e nas conexões. Eu creio que a mudança aconteceu porque a minha postura diante da vida mudou. Eu trabalhava muito, mas sabia ter o meu tempo de descanso e de solitude para refletir sobre as coisas que aconteceram comigo e para recobrar as minhas forças. Com o tempo, as pressões para fazer mais em menos tempo foram aumentando, a minha ansiedade para dar conta das exigências foi aumentado, e este tempo de descanso ficou cada vez mais escasso. Por isso, quando a oportunidade de não fazer nada bate à minha porta, eu me sinto compelido a buscar alguma coisa para fazer, mesmo estando muito cansado para fazer qualquer coisa. Eu preciso reaprender a passar algum tempo sem fazer nada sem achar que estou perdendo alguma coisa com isso.