Olá, pessoal,
Eu sempre desejei descrever as minhas impressões sobre as viagens que tenho feito para a Coréia do Sul pela empresa em que eu trabalho (Samsung), mas não tinha tempo ou disposição para fazê-lo até agora.
Uma vez que esta é a sexta vez que eu visito a Coréia do Sul, vou escrever de uma maneira diferente dos relatórios que eu fiz antes. Vou focar naquilo que já aprendi sobre o país ao invés de descrever detalhadamente o que eu passei durante esta viagem. Afinal de contas, eu tenho usado a maior parte do tempo aqui trabalhando (e como!) e não há muita coisa que seria interessante para contar sobre isso.
Mesmo assim, espero que vocês tenham uma boa leitura,
Hélio.
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Suwon, 8 de dezembro de 2012
Eu embarquei no aeroporto há quase uma semana atrás. Despedi-me da Martha e do Raphael, com o coração apertado por deixá-los sós, no Brasil.
Como família, nós temos tido muitos problemas por causa destas viagens de trabalho. Menos de um ano após casar com a Martha, tive de viajar aos Estados Unidos para participar do desenvolvimento de um produto. Viajei por dois meses, voltei por um mês e depois viajei novamente por um mês. Tentei levar a Martha junto, mas o visto foi negado e ficamos separados por três meses naquele ano. Foi o início da relação conturbada que teríamos entre a nossa vida familiar e as demandas de trabalho, e que ainda estamos tentando resolver.
Quanto à Coréia do Sul, fui levado para lá logo depois de ter sido contratado pela empresa, para ficar por três meses: novembro, dezembro e janeiro. Como desta vez, passei o natal do outro lado do mundo, longe da família e dos amigos. Naquela época, o Raphael tinha um ano, e aparentemente não sentiu muito (ele só não me reconheceu quando eu voltei); a Martha, no entanto, sentiu bastante a minha ausência, pois teria de lidar com tudo sozinha. Depois, fui para a Coréia mais quatro vezes antes desta viagem. Em uma delas, o Raphael reagiu com revolta quando eu voltei para casa: ele não quis abrir a porta e, quando eu entrei, ele me empurrou para a porta, falando para eu voltar à Coréia. Depois de alguns dias ele voltou a me receber com o carinho de sempre, mas é indescritível a tristeza que eu senti ao ouvir isso de meu próprio filho.
Esta viagem foi marcada para acontecer no sábado (dia primeiro); chegaria segunda-feira (dia 3) na Coréia para começar a trabalhar. Normalmente estas viagens são assim mesmo: com o intuito de economizar tempo e dinheiro, a empresa envia os funcionários no final de semana, para que não percam tempo de trabalho nas viagens de avião, apesar de colocar no papel o compromisso de evitar programar viagens no final de semana. Normalmente, há pouco tempo para ficar com a família antes e depois das viagens, mesmo as viagens prolongadas.
Eu não considero uma pessoa que viaja muito a trabalho: desde que eu entrei na Samsung, há quatro anos atrás, eu estive viajando por mais ou menos 7 meses. Eu também não sou avesso a estas viagens de trabalho: elas são boas para o meu desenvolvimento profissional e pessoal, tiram-me da rotina casa-trabalho-casa e dão-me a oportunidade de conhecer realidades distantes da minha. De fato, eu estava sentindo falta de uma viagem de trabalho depois de um ano e meio sem viajar. Mesmo assim, eu reconheço que as viagens de trabalho tem sido um fator que tem corroído o meu relacionamento com minha esposa e com meu filho. Algumas famílias provavelmente conseguem lidar com estas viagens com mais facilidade que nós, mas o fato é que as viagens são uma das evidências de que existe um conflito de lealdade entre as corporações e as nossas famílias. Eu muitas vezes me sinto tendo de escolher ficar com a empresa, mesmo crendo que a minha família é mais importante.
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