sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Relatório de viagem [Coréia do Sul] - Samsung


Suwon, 14 de dezembro de 2012

Como eu já havia mencionado anteriormente, eu trabalho na Samsung como engenheiro de software, na área de TV. Falar sobre o meu trabalho e da empresa onde estou trabalhando não é muito fácil, pois existem assuntos que são impróprios para dizer em público, seja porque certas informações devem ser confidenciais ou porque algumas opiniões poderiam me comprometer. Mesmo assim, creio que vale a pena falar sobre algo que ocupa a maior parte das minhas viagens na Coréia.

Samsung é uma palavra em coreano que significa "três estrelas". A empresa começou como um pequeno comércio em 1938, e aos poucos, cresceu e diversificou-se em várias áreas. Hoje, é um conglomerado, envolvido em várias atividades, da qual a fabricação de eletrônicos é uma das principais. Na Coréia do Sul, a Samsung é onipresente, está envolvida nas áreas de construção, parques de diversão, moda, lojas de departamento, carros, eletrodomésticos, e provavelmente em muitas outras atividades que eu não sei ainda.

A Samsung Electronics iniciou suas atividades em 1969 fazendo eletrodomésticos, e hoje é a maior empresa de tecnologia do mundo. As suas atividades também são diversificadas, envolvendo celulares, semicondutores, equipamentos de áudio e vídeo, computadores, câmeras fotográficas e eletrodomésticos.

A sede da Samsung Electronics é uma cidade dentro da cidade de Suwon, um campus por onde trafegam milhares de funcionários todos os dias. Até onde eu sei, este campus tem três portões de entrada, e eu sempre entro pelo portão principal. Dentro do campus, além dos prédios onde os engenheiros trabalham, há praças, quadra poliesportiva, ginásio, academia de ginástica, lojas, restaurantes e refeitórios. Somente os funcionários de alto escalão podem trafegar de carro dentro do campus: a maioria dos funcionários toma o transporte fretado da empresa que serve a cidade de Suwon e as cidades vizinhas. Existem estacionamentos perto dos portões de entrada, mas eles funcionam em esquema de rodízio: é possível vir de carro somente uma vez por semana.

Entrada do portão principal da sede da Samsung Electronics. 

Eles levam a segurança muito a sério: não se pode entrar com câmeras fotográficas, todos os dispositivos de armazenamento (pen drive ou MP3, por exemplo), devem ser lacrados antes de entrar dentro do campus, e todos os computadores que entram deve ser instalados com um software de segurança que criptografa os documentos e controla os dispositivos de entrada. A preocupação com a segurança de dados é compreensível, pois é comum na área de tecnologia, principalmente entre as empresas asiáticas, o "roubo" de informações de empresas concorrentes. No entanto, eu fico imaginando se todo este aparato de segurança evitaria o roubo de informações confidenciais por alguém que quisesse fazê-lo.

A divisão de TVs da Samsung Electronics fica no prédio mais alto do campus, com algo em torno de 37 andares (embora, talvez por superstição, eles pulem o quarto e o décimo-terceiro andar). Nós praticamente passamos o dia inteiro dentro desse prédio, principalmente agora, quando o frio nos desencoraja a sair e passear pelo campus. Há três refeitórios no prédio, e a comida é o equivalente à comida de fábrica, só que coreana: baseada em kimchi, apimentada, esquisita. Depois de algum tempo, eu me acostumei, mas foi muito difícil no início.
Os prédios da Samsung Electronics visto da entrada do campus. O prédio da esquerda é o de vídeo (onde estou trabalhando), o da direita é o de celulares, os prédios de trás estão em construção e o mais baixo com uma faixa laranja é um centro de convivência.

Normalmente, há um engenheiro da sede que é responsável por nós e providencia o necessário para trabalharmos ali. Na primeira vez que eu visitei a sede, disseram-me que a cultura de trabalho coreana era bastante hierarquizada, quase militar. Cada funcionário tem um posição (E3, E4, E5, E6); os engenheiros de hierarquia superior são bastante respeitados, e os outros engenheiros até se curvam diante deles quando os encontram. Existia uma cultura de submissão na qual a palavra do chefe é uma ordem e o chefe tem o direito de tratar os seus subordinados rispidamente sem ser confrontado. Os subordinados só poderiam sair do trabalho após o chefe sair. Esta cultura de trabalho no início me incomodou muito. Felizmente, desde aquela época, muitas coisas mudaram no processo de globalização da empresa: dependendo do engenheiro que nos recebe, as regras são bastante flexíveis. Hoje tenho muito mais liberdade no ambiente de trabalho quando venho aqui.

Uma outra parte da cultura coreana difícil de me adaptar foi a cultura dos "happy hour"s. Beber com os companheiros de trabalho parece ser uma questão muito importante para os coreanos, como se fosse um rito de passagem: você só fará parte do grupo quando beber com eles. Eu nunca gostava destes momentos, pois eu não tenho o hábito de beber, muito menos o de me embriagar, como acontecia com eles nestas confraternizações. Quando havia estas confraternizações, eu me sentia constrangido por não estar bebendo com eles. Também, esta cultura está mudando: nas últimas vezes em que saímos para confraternizar, os trabalhadores ainda bebiam muito, mas ao menos a decisão de não beber é respeitada.

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